Grupo de
advogados é suspeito de enganar clientes e fazer empréstimos em nome de pessoas
já mortas; prejuízo pode chegar a R$ 50 milhões
Em um dos
casos de fraude, uma pessoa teria assinado um documento dois meses depois de
morrer. Em outro, havia duas procurações assinadas em 2023, mas o autor se
encontra em estado vegetativo desde 2022.
Um advogado é investigado por ficar com o dinheiro obtido a partir de ações
judiciais movidas em nome de clientes no Rio Grande do Sul. Ele teria histórico
de mais de 100 mil ações no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. O
prejuízo aos cofres públicos e às pessoas pode chegar em R$ 50 milhões, segundo
a Polícia Civil.
O mesmo advogado chegou a ajuizar 581 processos em um único dia. Segundo
a polícia, o grupo, ligado à empresa Pro Consumer, ainda é investigados por
cooptar clientes, por ingressar com processos sem a autorização e conhecimento
deles, além de assinar procurações em nome de pessoas já mortas.
Em um dos casos de fraude, uma pessoa teria assinado um documento dois
meses depois de morrer. Em outro, havia duas procurações assinadas em 2023, mas
o autor se encontra em estado vegetativo desde 2022 (saiba mais abaixo).
A Operação Malis Doctor ocorre na manhã desta quinta-feira (7) em Porto Alegre e mira o advogado e mais 13 pessoas envolvidas no esquema, que a polícia chama de "advocacia predatória". Dos 14 suspeitos, nove são advogados.
Conforme Vinícius Nahan, titular da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP) e
responsável pela investigação, o grupo atuava fazendo ajuizamento massivo de
milhares de ações de revisão de juros sobre empréstimos consignados, com o uso
de procurações genéricas e falsificadas, sem o conhecimento dos autores, com o
objetivo de se apropriar dos valores liberados por meio de alvarás judiciais. O
perfil das vítimas é o de idosos, aposentados e servidores públicos, a maioria
policiais militares e professores estaduais.
"Esse advogado chegou a ajuizar
581 processos em um único dia, sendo hoje é um dos cincos maiores litigantes do
TJ/RS. Esse grupo criminoso é estruturado em três núcleos distintos: o núcleo
jurídico, formado por advogados responsáveis pela condução dos processos
judiciais; o núcleo de captação de clientela, composto por pessoas jurídicas
encarregadas do contato direto com os clientes; e o núcleo financeiro,
integrado por contadores e sócios dessas empresas, os quais são proprietários
de bens e veículos", explica o delegado.
O grupo é suspeito de ter cometido os crimes de estelionato, falsidade
ideológica, falsificação de documento particular, patrocínio infiel, uso de
documento falso, fraude processual e apropriação indébita.
Ao todo, há 15 inquéritos policiais abertos – seis de pessoas físicas,
cinco requisições da Justiça e de outros quatro bancos.
Como era
o esquema
Conforme a Polícia Civil, representantes da empresa Pro Consumer entram
em contato com potenciais clientes utilizando informações particulares, como
dados sobre empréstimos consignados vinculados a benefícios previdenciários. Os
clientes, geralmente em situação de vulnerabilidade, são abordados com a
promessa de resolver supostas cobranças "abusivas" de instituições
financeiras, mediante honorários advocatícios de 30% sobre os valores que
viriam a ser "recuperados" judicialmente.
Após ser convencido, o cliente fornece seus documentos, que passam a ser
utilizados pelo grupo para instruir ações judiciais contra instituições
financeiras.
Depois, os clientes são novamente contatados e acreditam que irão receber
valores das ações, mas os montantes depositados nas suas contas bancárias não
têm relação com os processos judiciais, mas são supostamente de novos
empréstimos contratados, sem o consentimento deles, viabilizados possivelmente
pela atuação da Pro Consumer.
Os clientes, acreditando estar pagando os honorários advocatícios
combinados, transferem 30% dos valores recebidos para contas indicadas pelos
representantes da empresa Pro Consumer. Porém, ao perceberem descontos em seus
benefícios previdenciários, se dão conta de que foram vítimas.
Assim, as tentativas de contato com as empresas para esclarecimentos
passam a ser ignoradas, deixando os clientes sem respostas e sobrecarregados
com dívidas inesperadas. Por-G1.com