Valtenir
Bueno Dornelles teria investido mais de R$ 600 mil na compra de votos para
garantir eleição de candidato, diz MPE. Objetivo seria apostar que um candidato
sem nenhuma chance venceria, e depois garantir a vitória comprando votos,
segundo denúncia.
Um suposto esquema de compra de votos com o objetivo de faturar em
apostas é alvo de uma ação do Ministério Público, que tramita na Justiça
Eleitoral. O caso teria acontecido em Boa Vista das Missões, no Norte do Rio
Grande do Sul.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) entrou com uma ação na Justiça
pedindo a cassação do registro de Sérgio Bueno Rocha, o "Serginho",
eleito pelo Partido Progressistas (PP), e a condenação de Valtenir Bueno
Dornelles, conhecido na cidade como Anibal, e que teria orquestrado a
candidatura com o objetivo de ganhar a aposta. Sérgio obteve 438 votos – a
maior votação da história da cidade para o cargo.
Na Câmara Municipal, Sérgio Bueno da Rocha negou as acusações, ao ser
abordado pela equipe da RBS TV. O PP
informou que não tem acesso às informações, nem ao processo. Por esses motivos,
não vai se manifestar. Já Dornelles foi
procurado, mas não retornou os contatos até a mais recente atualização desta
reportagem.
O caso foi relatado por Paulo Roberto Galvão Ignacio, ex-prefeito da
cidade. Segundo ele, Anibal teria investido mais de R$ 600 mil na compra de
votos para garantir a eleição do candidato — tudo como parte de um plano para
ganhar dinheiro com apostas eleitorais.
Moradores da cidade confirmaram à reportagem que teriam recebido dinheiro
em troca de votos, entregues por Anibal. Um deles, que não quis se identificar,
revelou que toda a família teria vendido os votos por R$ 5 mil. Em áudios
obtidos pela reportagem, o próprio Anibal aparece cobrando o cumprimento do
acordo: “Confirma o votinho lá pra nós, tudo sabe né, que nós combinemo...
Preciso de um votinho porque eu andei jogando ontem aí".
O objetivo, segundo a denúncia, era apostar que um candidato sem nenhuma
chance venceria – e depois garantir a vitória dele comprando votos.
Em 2024, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou uma resolução que
explicita o ilícito eleitoral de prática de apostas — inclusive pela internet —
cujo objeto envolva o resultado das eleições.
Fazer esse tipo de aposta de forma repetida, ainda mais se envolver
promessas de dinheiro ou outras vantagens para eleitores, pode atrapalhar a
eleição e influenciar o voto das pessoas. Isso é considerado uma prática ilegal
e pode ser punida como abuso de poder econômico ou compra de votos, com base na
Constituição e nas leis eleitorais.
Eleitores tiveram prejuízos
O aposentado Setembrino Lício de Oliveira, de 77 anos, relata que
investiu R$ 60 mil, o valor que havia ganhado arrendando a terra para plantar
soja. Ele conta que apostou que um candidato tradicional, atual presidente da
Câmara, faria mais votos que Serginho — e perdeu. “Achei que ganhava fácil. O
outro já era conhecido, o Serginho ninguém conhecia”, afirmou Oliveira.
Outro morador, João Pedro Brizola Dorneles, diz que apostou R$ 300 mil
que a soma de votos de três candidatos tradicionais venceria a de Serginho e um
aliado. Também perdeu.
Fonte: G1 RS