Apesar
disso, o preço do café moído acumula uma inflação de 76,5% em um ano
O preço do café caiu 0,36% em julho, a
primeira queda em um ano e meio, segundo a prévia da inflação oficial do país,
medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). A
última queda no preço no IPCA-15 havia sido registrada em dezembro de 2023.
Depois, foram 18 subidas consecutivas.
O levantamento foi divulgado nessa
sexta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O
IPCA-15 mede a variação de preços entre o dia 16 do mês anterior e o dia 15 do
mês da divulgação. A tendência de queda no preço do café para o consumidor já
havia sido registrada no IPC, o indicador de inflação da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe), na semana passada.
Apesar disso, o preço do café moído
acumula uma inflação de 76,5% em um ano, de acordo com o IPCA-15.
Em junho, o preço médio do quilo do café
tradicional no país atingiu R$ 66,70, segundo a Associação Brasileira de Café
(Abic). Há um ano, esse valor era de R$ 35,17.
No geral, o IPCA-15 registrou inflação
de 0,33% em julho, e o grupo de Alimentação e Bebidas teve queda de 0,06% nos
preços. Em junho, economistas já afirmavam que o preço do café nos
supermercados ia começar a cair a partir do segundo semestre.
Isso porque, no campo, as cotações já
diminuíram após o início da colheita no Brasil, que começou em março e vai até
setembro. Os meses mais fortes de colheita são junho e julho. A tendência é que
os preços continuem em queda por causa do avanço da safra.
Existe também incerteza por causa da
tarifa de 50% que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs aos produtos
brasileiros. Ela entra em vigor em 1º de agosto, se os países não fecharem um
acordo. A taxa poderia reduzir ainda mais os preços do café no Brasil, mas o
setor ainda espera o resultado das negociações do governo com os EUA, que
compram 16% do café exportado pelo Brasil e são o maior cliente do produto
nacional no mundo.
Além disso, o Conselho dos Exportadores
de Café do Brasil (Cecafé) diz que países como China, Índia, Indonésia e
Austrália podem absorver parte da produção, pois são grandes consumidores e já
compram café brasileiro.
Tarifaço
Os EUA produzem só 1% do café consumido
por sua população, o que gera a dependência do produto que vem de fora. Caso a
tarifa de 50% seja aplicada, o país terá dificuldade para suprir a demanda.
Isso porque o Brasil representa 40% de
toda a oferta mundial de café, segundo Fernando Maximiliano, analista da
consultoria StoneX Brasil, e os norte-americanos provavelmente deixariam de
comprar o produto brasileiro.
Segundo a Cogo Consultoria, a nova taxa
tornaria o fluxo de café entre Brasil e EUA “praticamente inviável”.
Nesse cenário, a indústria de café dos
EUA precisaria encontrar novos fornecedores, que têm produções bem menores, e
pagariam mais caro por isso.
“O Brasil é o principal fornecedor,
responsável por 34% do café que os americanos importam. São 8 milhões de sacas.
Imagine só como eles fariam para redirecionar a aquisição desse café de outros
países”, diz Fernando Maximiliano.
Um exemplo dessa dificuldade é a
diferença de produção de café do tipo arábica entre o Brasil, maior produtor
mundial, e a Colômbia, segunda na lista. Essa é a variedade de café que os
Estados Unidos mais importam.
“O Brasil produz cerca de 40 milhões de
sacas de café arábica por ano, e a Colômbia, entre 12 e 13 milhões. A Colômbia
não teria esse café todo para substituir o Brasil”, resume Maximiliano.
A falta de café brasileiro contribuiria
para encarecer ainda mais o produto no mercado norte-americano. Segundo dados
do governo dos EUA, o preço do café subiu 32,4% no país entre junho de 2024 e
maio de 2025.